domingo, 21 de novembro de 2010

Encarnação

Acabei de retornar de uma viagem do sertão. Estou bastante cansada.
Vim com o Luquinhas na carroceria de uma Toyota Bandeirantes. A viagem do Violeto para a Barra do Corda dura de duas horas e meia a três horas. Mas às vezes parece uma eternidade. Parte da estrada é de areia e parte é de terra – a chamada piçarra, ou cascalho. Vim sentada em cima de um butijão de gás. Em um grande pedaço da viagem o Lucas, que estava sentado em uma mochila dentro de um engradado ou grajau, deitou-se sobre minhas pernas. Duas mulheres estavam carregando criancinhas de colo. Quatro pessoas iam em pé. Outras duas mulheres iam sentadas em um saco de buritirama. Havia outros saco de buriti, e um balde com esta mesma fruta. Além das pessoas e das malas, havia uns cinco pintos já “adolescentes” amarrados se debatendo no chão do carro. A estrada é cheia de curvas, pois fazem as estradas tentando fugir dos maiores bancos de areia. Por isso a gente sacode muito. Várias vezes quase tombei com o butijão (que ao menos desta vez estava vazio, diminuindo o medo de me explodir pelos ares!). O inverno ou tempo de chuva está chegando. Isso significa que tem mais mato. Mais mato significa mais “lapada”. Hoje levei três das grandes: duas galhadas na cara e uma paulada na cabeça. As pequenas eu nem conto. Ah... tempo de chuva significa também: chuva!! Hoje pegamos um bom trecho com chuva. Para proteger seus passageiros, o bondoso motorista tinha preparada uma lona suja e fedida. Foi o jeito, né?

O impressionante da história é a paz que senti mesmo estando cansada, com dores na coluna e nas pernas, e com uma lona suja apoiada na minha cabeça, enquanto eu fazia de tudo para me equilibrar sobre o butijão de gás. Fiquei pensando como ainda não morri com uma paulada na cabeça. Mais ainda: como as galhadas e a paulada, desta vez, não deixaram nem marcas! Com certeza requereu muito trabalho dos os anjos divinos em me protejer!

Agora, o que não saía mesmo da minha cabeça era a loucura da encarnação. Digo loucura, com todo respeito ao ato divino. Como pode, o Deus todo poderoso, criador de todas as coisas, sair do seu trono, se tornar homem... mas antes, bebê? Que nasceu espetado em palhas de coxos, provavelmente perturbado por mosquitos, moscas, quem sabe até carrapatos? Que fazia xixi e cocô e precisava de alguém para limpá-lo – olha que não havia nem fraldas descartáveis nem lenço umedecido, muito menos hipogloss. Isso sem falar em tudo que sofreu como homem adulto, como pessoa pública, como amigo, como discipulador, como parente incompreendido... ele sofreu. Mas sofrimento mesmo aconteceu na cruz! Não preciso fazer descrição detalhada pra ninguém imaginar quão grande deve ser o sofrimento enquanto dependurado em uma cruz seguro por pregos nas mãos e pés, estendido como bicho para sangrar até morrer.
Eu sair da minha casa em BH, onde tinha conforto e embora andasse de ônibus várias vezes, sempre podia passear no carro do papai, para ser missionária no sertão e fazer algumas viagens em carro de linha, é sofrimento pouco se comparado ao de Jesus. Claro que não deixa de ser sofrimento. Mas ao mesmo tempo me ensina a importância de me encarnar como missionária. Conhecer de perto o sofrimento do povo a quem desejo alcançar com a mensagem do evangelho. Recebendo paz em meio ao sofrimento posso dizer que é verdadeiramente possível viver a vida abundante mesmo na simplicidade da vida no sertão.

Em Cristo,

Adriana Costa

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